Tendinopatia supra-espinhoso
A Tendinopatia do Supra-espinhoso é uma condição comum que afeta o tendão do músculo supra-espinhoso, um dos quatro tendões que formam a coifa dos rotadores (ou manguito rotador) no ombro. Este músculo é crucial para iniciar o movimento de elevação do braço e para a estabilidade do ombro. A tendinopatia envolve a inflamação, irritação e/ou degeneração deste tendão.
Sintomas
Os sintomas da tendinopatia do supra-espinhoso geralmente desenvolvem-se gradualmente e pioram com o tempo:
- Dor no ombro: É o sintoma principal, sentida na parte frontal ou lateral do ombro, que pode irradiar para o lado do braço, mas raramente desce abaixo do cotovelo. A dor pode ser surda e constante, ou aguda com certos movimentos.
- Dor ao levantar o braço: A dor agrava-se ao levantar o braço acima da cabeça (abdução) ou ao alcançar objetos. É comum um “arco doloroso”, ou seja, a dor é sentida especialmente entre os 60 e os 120 graus de elevação lateral do braço.
- Dor noturna: Frequentemente, a dor piora à noite, dificultando o sono, especialmente ao deitar-se sobre o ombro afetado.
- Fraqueza: Dificuldade em levantar objetos ou realizar tarefas que exigem força no ombro.
- Rigidez: Pode haver alguma rigidez ou limitação da amplitude de movimento.
- Crepitação: Sensação de estalo ou ranger no ombro ao movê-lo.
Causas
A tendinopatia do supra-espinhoso é geralmente causada por:
- Uso excessivo e movimentos repetitivos: Atividades que envolvem elevação repetitiva do braço acima da cabeça (ex: desportos como natação, ténis, andebol; profissões como pintores, eletricistas) podem causar microtraumatismos e desgaste no tendão.
- Envelhecimento (Degeneração): Com a idade, os tendões perdem elasticidade e a sua capacidade de cicatrização diminui, tornando-os mais suscetíveis a lesões mesmo com atividades diárias. É uma causa muito comum em pessoas com mais de 40 anos.
- Conflito subacromial (Impingement): Ocorre quando o espaço entre o acrómio (uma projeção óssea da omoplata) e o tendão do supra-espinhoso é estreito. Isso pode ser devido a esporões ósseos no acrómio ou a alterações na cinemática do ombro, levando à compressão e atrito repetitivo do tendão durante o movimento.
- Traumatismos: Quedas sobre o ombro ou impactos diretos, embora mais frequentemente causem roturas do que apenas tendinopatia.
- Má postura: Uma postura curvada para a frente pode reduzir o espaço subacromial, contribuindo para o conflito.
- Fraqueza muscular: Desequilíbrio ou fraqueza dos músculos da coifa dos rotadores (incluindo o próprio supra-espinhoso) e da cintura escapular pode levar a uma mecânica deficiente do ombro e sobrecarga do tendão.
Diagnóstico
O diagnóstico da tendinopatia do supra-espinhoso é feito por um médico (ortopedista ou fisiatra) e inclui:
- Histórico clínico detalhado: O médico irá questionar sobre os sintomas (localização, tipo de dor, fatores que a agravam, atividades profissionais/desportivas) e o histórico de lesões.
- Exame físico: Avaliação da amplitude de movimento (ativa e passiva), palpação da região do ombro para identificar pontos de dor, e realização de testes específicos (ex: teste de Neer, teste de Hawkins, teste de Jobe) que reproduzem a dor ou avaliam a força do tendão supra-espinhoso.
- Exames de imagem:
- Radiografias (RX): Úteis para identificar alterações ósseas, como esporões no acrómio que podem causar conflito, ou sinais de artrose. Não visualizam diretamente o tendão.
- Ecografia (ultrassonografia) do ombro: É um exame muito útil e acessível para visualizar o tendão do supra-espinhoso em tempo real, detetar inflamação (tendinopatia, com espessamento ou alterações de ecogenicidade) e bursites associadas. Permite a avaliação dinâmica durante o movimento do ombro.
- Ressonância Magnética Nuclear (RMN) do ombro: É o exame mais detalhado para avaliar o tendão do supra-espinhoso, identificando tendinopatias, inflamação, degeneração e roturas (parciais ou completas), bem como outras lesões dos tecidos moles.
Tratamento
O tratamento da tendinopatia do supra-espinhoso é geralmente conservador (não cirúrgico) e visa reduzir a inflamação, aliviar a dor, restaurar a função e prevenir a progressão da lesão.
- Medicação:
- Analgésicos: Para controlo da dor.
- Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): Para reduzir a dor e a inflamação.
- Repouso relativo e modificação de atividades: Evitar atividades que agravem a dor e que coloquem stress excessivo no tendão. Adaptar movimentos e a ergonomia no trabalho.
- Aplicação de gelo ou calor: O gelo pode ajudar a reduzir a inflamação na fase aguda; o calor pode ser útil para relaxar os músculos e aliviar a rigidez em fases mais crónicas.
- Fisioterapia: É o pilar do tratamento. Inclui:
- Controlo da dor e inflamação (com modalidades como ultrassom, eletroterapia, laser).
- Exercícios de alongamento suave para restaurar a amplitude de movimento.
- Exercícios de fortalecimento progressivo dos músculos da coifa dos rotadores e da cintura escapular, que são cruciais para melhorar a mecânica do ombro e a estabilidade.
- Reeducação postural e técnica de movimentos.
- Infiltrações:
- Corticosteroides: Injeções de corticosteroides (anti-inflamatórios potentes) e anestésicos na bursa subacromial (espaço onde o tendão desliza) podem proporcionar um alívio rápido da dor e da inflamação. Devem ser usadas com cautela e limitadas em número devido aos potenciais efeitos adversos no tendão.
- Plasma Rico em Plaquetas (PRP): Uma opção mais recente, onde o plasma do próprio paciente (rico em fatores de crescimento) é injetado para promover a cicatrização. Os resultados ainda são variáveis e requerem mais estudos.
- Terapia por Ondas de Choque Extracorpórea (ESWT): Pode ser uma opção para tendinopatias crónicas que não respondem a outras abordagens.
- Cirurgia: Raramente necessária para a tendinopatia isolada. É considerada se o tratamento conservador não for eficaz após vários meses, se houver um conflito subacromial significativo devido a um esporão ósseo que não responde, ou se a tendinopatia progredir para uma rotura. A cirurgia é geralmente artroscópica (minimamente invasiva) e pode envolver a descompressão subacromial (remoção de parte do osso para aumentar o espaço) ou a reparação de pequenas roturas.
Prevenção
A prevenção da tendinopatia do supra-espinhoso foca-se em reduzir a sobrecarga e o desgaste do tendão:
- Aquecimento e alongamento: Realizar um aquecimento adequado antes de qualquer atividade física que envolva os ombros e alongamentos regulares para manter a flexibilidade.
- Fortalecimento muscular equilibrado: Manter os músculos da coifa dos rotadores e da cintura escapular fortes e equilibrados. Exercícios específicos para o manguito rotador são cruciais para a estabilidade e a mecânica do ombro.
- Técnicas corretas: Aprender e aplicar as técnicas adequadas para levantar pesos, arremessar ou realizar movimentos acima da cabeça, evitando sobrecarga ou movimentos bruscos e repetitivos.
- Ergonomia: Ajustar o posto de trabalho e as atividades diárias para manter uma boa postura e evitar stress repetitivo no ombro.
- Fazer pausas: Em atividades que exijam movimentos repetitivos do ombro.
- Evitar o tabagismo: O fumo pode comprometer a saúde dos tendões.
- Gerir o stress: O stress pode levar a tensão muscular no pescoço e ombros, que pode influenciar a mecânica do ombro.
- Procurar ajuda médica precocemente: Em caso de dor persistente no ombro, procurar um médico para um diagnóstico e tratamento atempados pode prevenir a progressão da tendinopatia para uma rotura.