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Instabilidade do ombro

A Instabilidade do Ombro ocorre quando a cabeça do úmero (osso do braço) não se mantém firmemente centrada na cavidade glenoidal da omoplata, uma cavidade rasa que faz parte da articulação do ombro. Esta condição faz com que o ombro seja propenso a deslizar parcial (subluxação) ou totalmente (luxação) para fora da articulação.


Sintomas

Os sintomas da instabilidade do ombro podem variar dependendo da gravidade e da frequência dos episódios de subluxação ou luxação:

  • Dor: A dor é um sintoma comum, especialmente durante ou após um episódio de subluxação ou luxação. Pode ser uma dor aguda e súbita ou uma dor constante e surda no ombro.
  • Sensação de “soltura” ou “desencaixe”: O paciente pode sentir que o ombro está prestes a sair do lugar ou que “salta” ao realizar certos movimentos.
  • Apreensão: Um medo ou receio de mover o braço em determinadas posições (especialmente abdução e rotação externa) porque sente que o ombro pode luxar novamente.
  • Estalos ou cliques: Pode ouvir ou sentir estalos ou cliques no ombro.
  • Fraqueza: A dor e a instabilidade podem levar a uma sensação de fraqueza no ombro ou no braço.
  • Perda de amplitude de movimento: Após um episódio de luxação, o ombro pode ficar rígido e doloroso, com dificuldade em mover o braço.
  • Deformidade (em caso de luxação): O ombro pode parecer visivelmente fora do lugar.

Causas

A instabilidade do ombro resulta de um ou mais fatores que comprometem a estabilidade da articulação. O ombro é a articulação mais móvel do corpo, mas esta mobilidade vem com um custo em termos de estabilidade. As causas mais comuns incluem:

  • Traumatismo (Instabilidade Traumática):
    • Luxação do ombro: É a causa mais comum. Uma luxação anterior (cabeça do úmero sai para a frente) é a mais frequente e ocorre geralmente quando o braço está em abdução (levantado para o lado) e rotação externa forçada (ex: queda sobre o braço estendido, desportos de contacto). Após uma primeira luxação, a probabilidade de recorrência é alta, especialmente em jovens.
    • Lesões associadas à luxação: A luxação pode causar danos às estruturas que estabilizam o ombro, como:
      • Lesão de Bankart: Rotura da parte anteroinferior do labrum glenoidal (um anel de cartilagem que aprofunda a cavidade glenoidal).
      • Lesão de Hill-Sachs: Uma pequena depressão ou fratura na parte posterior da cabeça do úmero, causada pelo impacto contra a borda da glenoide durante a luxação.
      • Rotura dos ligamentos glenoumerais: Alongamento ou rotura dos ligamentos que conectam a glenoide ao úmero.
  • Frouxidão Ligamentar (Instabilidade Atraúmatica ou Multidirecional):
    • Algumas pessoas nascem com ligamentos naturalmente mais flexíveis e “elásticos” em todo o corpo (hiperflexibilidade ou hipermobilidade articular). Nestes casos, o ombro pode luxar ou subluxar sem um traumatismo significativo, muitas vezes em várias direções (anterior, posterior e inferior).
  • Disfunção Muscular:
    • Fraqueza ou desequilíbrio dos músculos que estabilizam o ombro, como os músculos do manguito rotador e os músculos da cintura escapular, podem contribuir para a instabilidade.

Diagnóstico

O diagnóstico da instabilidade do ombro é realizado por um médico (ortopedista) e envolve:

  • Histórico clínico detalhado: O médico irá perguntar sobre luxações anteriores (quantas, como ocorreram, em que posição), sensações de “desencaixe”, dor, e nível de atividade física.
  • Exame físico: O médico irá avaliar a amplitude de movimento, a força muscular e a estabilidade do ombro. Serão realizados testes específicos para tentar reproduzir a sensação de instabilidade ou apreensão (ex: teste de apreensão, teste de recolocação, teste de sulco).
  • Exames de imagem:
    • Radiografias (RX): Podem mostrar sinais de luxação anterior, fraturas associadas (como a lesão de Hill-Sachs ou Bankart óssea) e artrose.
    • Ressonância Magnética Nuclear (RMN) ou Artro-RMN: A RMN é o exame mais útil para avaliar as estruturas de tecidos moles do ombro, como o labrum (procurando lesões de Bankart), os ligamentos e os tendões do manguito rotador. A Artro-RMN (com injeção de contraste na articulação) é ainda mais sensível para detetar lesões do labrum.
    • Tomografia Axial Computorizada (TAC) ou Artro-TAC: Pode ser utilizada para uma avaliação mais detalhada das estruturas ósseas e para quantificar perdas ósseas na glenoide ou no úmero.

Tratamento

O tratamento da instabilidade do ombro depende da causa, da gravidade, da frequência dos episódios e do nível de atividade do paciente. Pode ser conservador ou cirúrgico.

  • Tratamento Conservador (primeira linha, especialmente para o primeiro episódio de luxação ou instabilidade atraumática leve):

    • Imobilização: Após uma luxação aguda, o ombro é imobilizado com uma ligadura tipo sling por um curto período para permitir a cicatrização inicial dos tecidos.
    • Medicação: Analgésicos para controlo da dor.
    • Fisioterapia: É crucial. O objetivo é fortalecer os músculos do manguito rotador e os músculos da cintura escapular para melhorar a estabilidade dinâmica do ombro. A fisioterapia também ajuda a restaurar a amplitude de movimento e a proprioceção (a perceção da posição do corpo).
    • Modificação de atividades: Evitar movimentos ou posições que desencadeiam a instabilidade.
  • Tratamento Cirúrgico: É frequentemente recomendado em casos de instabilidade recorrente, em jovens e atletas (devido ao alto risco de novas luxações), ou quando há lesões estruturais significativas (ex: grandes lesões de Bankart, perdas ósseas importantes). O objetivo é restaurar a estabilidade da articulação.

    • Reparação artroscópica de Bankart: A abordagem mais comum, onde o labrum é reparado e os ligamentos são apertados através de pequenas incisões.
    • Outras técnicas artroscópicas: Como a capsuloplastia (apertamento da cápsula articular).
    • Cirurgias abertas: Em casos de grandes perdas ósseas na glenoide ou no úmero (ex: procedimento de Latarjet, onde um pedaço de osso da omoplata é transferido para a glenoide para aumentar a estabilidade).
    • Reabilitação pós-cirúrgica: A fisioterapia é intensiva e essencial após a cirurgia para recuperar a força, a amplitude de movimento e a função total do ombro.

Prevenção

A prevenção da instabilidade do ombro pode ser desafiante, especialmente se houver frouxidão ligamentar natural ou após uma primeira luxação. No entanto, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco:

  • Fortalecimento muscular: Manter os músculos do manguito rotador e os músculos da cintura escapular fortes e equilibrados. Estes músculos são cruciais para a estabilidade dinâmica do ombro.
  • Exercícios de proprioceção: Exercícios que melhoram o sentido de posição e movimento do ombro, ajudando o corpo a reagir mais rapidamente a movimentos de instabilidade.
  • Técnicas corretas em desportos: Aprender e aplicar as técnicas corretas em desportos que envolvem movimentos do ombro, evitando posições de risco.
  • Uso de equipamento de proteção: Em desportos de contacto, usar equipamento que proteja o ombro.
  • Após uma luxação: Seguir rigorosamente o plano de reabilitação com o fisioterapeuta para fortalecer o ombro e reduzir o risco de recorrência. Em jovens, considerar a cirurgia profilática após a primeira luxação traumática pode ser uma opção para prevenir recorrências.