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Capsulite adesiva (ombro congelado)

A Capsulite Adesiva, vulgarmente conhecida como “Ombro Congelado”, é uma condição caracterizada por dor e perda progressiva da amplitude de movimento da articulação do ombro. Ocorre devido ao espessamento e encurtamento da cápsula articular (o tecido que envolve a articulação glenoumeral), o que restringe significativamente o movimento.


Sintomas

A capsulite adesiva geralmente progride em três fases distintas, e os sintomas variam em cada uma delas:

  1. Fase Dolorosa (Fase de Congelamento):

    • Dor progressiva: A dor no ombro aumenta gradualmente e piora com o movimento.
    • Dor noturna: A dor é frequentemente mais intensa à noite, dificultando o sono.
    • Rigidez incipiente: Começa a haver alguma perda de movimento, embora a dor seja o sintoma predominante nesta fase. Esta fase pode durar de 6 semanas a 9 meses.
  2. Fase de Congelamento (Fase Rígida):

    • Rigidez acentuada: A dor pode diminuir um pouco, mas a rigidez e a perda de movimento tornam-se mais severas. A capacidade de mover o braço (tanto ativa como passivamente) é significativamente limitada em todas as direções.
    • Dificuldade em tarefas diárias: Atividades simples como vestir-se, pentear o cabelo ou alcançar objetos tornam-se muito difíceis.
    • Esta fase pode durar de 4 a 12 meses.
  3. Fase de Descongelamento (Fase de Resolução):

    • Melhoria gradual da dor: A dor começa a diminuir significativamente.
    • Recuperação gradual da amplitude de movimento: O movimento do ombro começa lentamente a melhorar, embora a recuperação completa possa levar tempo.
    • Esta fase pode durar de 5 a 26 meses, e a recuperação total pode demorar até 2-3 anos em alguns casos.

Causas

A causa exata da capsulite adesiva não é totalmente compreendida em todos os casos (idiopática). No entanto, existem fatores de risco e condições associadas:

  • Idiopática (Primária): Na maioria dos casos, não há uma causa clara.
  • Imobilização prolongada: Manter o ombro imobilizado por um período prolongado após uma lesão, cirurgia ou AVC, aumenta o risco.
  • Diabetes Mellitus: É um fator de risco significativo; pessoas com diabetes têm maior probabilidade de desenvolver capsulite adesiva, e esta pode ser mais grave e difícil de tratar.
  • Outras condições médicas:
    • Doenças da tiroide: Hipotiroidismo e hipertiroidismo.
    • Doença de Parkinson.
    • Doenças cardíacas e cirurgia cardíaca.
    • AVC (Acidente Vascular Cerebral).
  • Traumatismos ou cirurgias prévias no ombro: Podem, por vezes, desencadear a capsulite adesiva, embora a imobilização seja um fator mais direto nestes casos.
  • Sexo e idade: Mais comum em mulheres entre os 40 e 60 anos.

Diagnóstico

O diagnóstico da capsulite adesiva é principalmente clínico, baseado nos sintomas característicos e no exame físico, e na exclusão de outras condições.

  • Histórico clínico: O médico irá questionar sobre a progressão da dor e da rigidez, o histórico de lesões, cirurgias ou doenças.
  • Exame físico: É crucial. O médico irá avaliar a amplitude de movimento do ombro, tanto ativa (o que o paciente consegue mover) como passiva (o que o médico consegue mover). Na capsulite adesiva, há uma perda de movimento significativa em todas as direções, tanto na mobilidade ativa quanto passiva, o que a distingue de outras condições como tendinopatias ou roturas.
  • Exames de imagem:
    • Radiografias (RX): Geralmente normais nos estágios iniciais, mas podem ajudar a descartar outras causas de dor no ombro, como artrose ou fraturas.
    • Ressonância Magnética Nuclear (RMN): Pode mostrar o espessamento da cápsula articular e ajudar a excluir outras lesões do manguito rotador ou alterações ósseas. Pode também revelar a inflamação da cápsula.
    • Artrografia por RMN: Um corante é injetado na articulação antes da RMN para visualizar melhor a cápsula articular e confirmar a sua contração.

Tratamento

O tratamento da capsulite adesiva é focado no alívio da dor, na recuperação da amplitude de movimento e na gestão das fases da doença. A maioria dos casos melhora com tratamento conservador.

  • Medidas Conservadoras:
    • Medicação:
      • Analgésicos: Para controlar a dor.
      • Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs): Para reduzir a dor e a inflamação.
    • Fisioterapia: É o pilar do tratamento, embora possa ser dolorosa nas fases iniciais. O objetivo é restaurar gradualmente a amplitude de movimento através de:
      • Exercícios de alongamento suave e progressivo.
      • Mobilizações articulares (passivas e assistidas).
      • Técnicas de terapia manual.
      • Modalidades para alívio da dor (calor, frio, ultrassom, eletroterapia).
      • Exercícios de fortalecimento à medida que a mobilidade melhora.
    • Infiltrações intra-articulares: Injeções de corticosteroides (anti-inflamatórios) e anestésicos diretamente na articulação do ombro podem proporcionar um alívio significativo da dor e da inflamação, especialmente na fase dolorosa, permitindo que a fisioterapia seja mais eficaz.
    • Terapia com calor/frio: Ajuda a aliviar a dor e a rigidez.
  • Tratamentos Invasivos (para casos refratários ou graves):
    • Hidrodistensão (Distensão Articular): Injeção de uma grande quantidade de soro fisiológico (com corticosteroide e anestésico) na cápsula articular para esticá-la e romper algumas aderências.
    • Manipulação sob Anestesia: O cirurgião move o ombro de forma forçada sob anestesia geral para romper as aderências. Este procedimento tem riscos e é menos comum atualmente.
    • Liberação Capsular Artroscópica: É um procedimento cirúrgico, realizado por artroscopia (minimamente invasivo), onde o cirurgião corta e remove as aderências da cápsula articular. É reservado para casos graves e refratários, especialmente se a dor persistir e a mobilidade não melhorar após 6-12 meses de tratamento conservador. Após a cirurgia, a fisioterapia intensiva é crucial.

Prevenção

A prevenção da capsulite adesiva nem sempre é possível, especialmente em casos idiopáticos ou associados a doenças sistémicas. No entanto, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco, particularmente em pessoas com fatores predisponentes:

  • Controlo de doenças subjacentes: Pessoas com diabetes, doenças da tiroide ou outras condições associadas devem gerir bem a sua doença.
  • Mobilização precoce após lesão ou cirurgia: Se o ombro tiver sido imobilizado (por fratura, cirurgia ou AVC), é crucial iniciar exercícios de mobilidade o mais rapidamente possível, sob orientação médica ou de fisioterapeuta, para prevenir a rigidez.
  • Evitar imobilização prolongada: Manter o ombro em movimento, mesmo com exercícios suaves, se houver um período de inatividade forçada.
  • Exercício físico regular: Manter a amplitude de movimento e a força do ombro através de exercícios regulares.

Apesar de ser uma condição que pode ser frustrante e dolorosa, a maioria das pessoas com capsulite adesiva recupera a maior parte da sua amplitude de movimento e função, embora o processo possa ser longo e exija paciência e adesão ao tratamento.